Jovem abre negócio próprio como opção, não por necessidade

Hoje, de acordo com pesquisa realizada pela organização Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2016, 30,3% dos empreendedores brasileiros com negócios com até três anos e meio de atividade são formados por jovens entre 25 e 34 anos

Longe da carteira assinada e do relógio de ponto, jovens apostam em negócios próprios e já são a maioria entre os novos empreendedores brasileiros. Hoje – de acordo com pesquisa realizada pela organização Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2016 –, 30,3% dos empreendedores brasileiros com negócios com até três anos e meio de atividade são formados por jovens entre 25 e 34 anos.

Caso, por exemplo, de Mariana Brito, de 27 anos, que comanda uma confecção de roupas femininas. Ela conta que sempre quis trabalhar com moda, e por conta própria. Formada há dois anos, ela começou desenhando peças para confecções diversas. Sua família já tinha atuado no ramo, mas o negócio foi deixado de lado. Ela então decidiu retomar e, há cerca de dois anos, montou sua própria marca de roupa de praia. Mas, com a limitação orçamentária, toda a produção foi terceirizada, e ela continuou desenhando peças para outras lojas. Até que um vestido alçou seu negócio a voos maiores. A pedido de uma confecção fluminense ela desenhou, há cerca de um ano e meio, um modelo inspirado na Grécia, com possibilidades de estampas e amarrações diversas, bem cortado e com material de qualidade.

Uma compradora gostou tanto que postou o modelito nas redes sociais. Foi um sucesso. Batizado de “the dress” – o vestido em inglês –, ele é agora o carro-chefe da confecção de Mariana, batizada de Mabri. Ela já fez cerca de 500 peças, todas em cores e tamanhos personalizados. “Já vendi até para fora do Brasil”, comemora Mariana. A maior dificuldade, conta ela, é conseguir financiamento para alavancar o negócio. Mas ela diz não ter pressa. “Ainda sou pequena para uma demanda gigante, mas vamos crescendo aos poucos e com segurança”, afirma

Hoje, a Mabri tem uma equipe de nove pessoas e funciona em um espaço na casa de sua família. O próximo passo é alugar uma sala para servir de showroom. Sobre as dificuldades com a parte financeira e toda a burocracia com administração e impostos, um dos principais problemas listados pelos jovens empreendedores, ela afirma que sempre contou com a ajuda do pai, Antônio Saturnino de Brito Júnior, que é contador. Hoje, a confecção, segundo ele, está estabilizada e ela consegue pagar todas as despesas e ter lucro.

Marcelha Pereira, de 24, formada em design de produtos, há um ano abriu mão da carteira assinada para trabalhar em seu próprio negócio. Em parceria com a amiga e produtora de moda Milene Agnes, também de 24, as duas criaram a Melancia, marca de acessórios que, por enquanto, não tem ponto de venda físico, mas já revende pela internet e em algumas lojas da cidade.

Em tempos de concorrência cada vez mais acirrada com a China, maior exportadora de bijuterias do mundo – as duas não se intimidaram. Montaram um ateliê em um dos quartos da casa dos pais de Marcelha e, há um ano, vendem suas peças personalizadas. O empreendimento cobre todos os custos, mas o lucro ainda não é suficiente para a ampliação do negócio. “Mas nunca fechamos no vermelho”, assegura. Para aprender mais sobre como gerir negócios, as duas fizeram alguns cursos.

Tendência

Para o gerente do Sistema de Formação Gerencial do Sebrae Minas, Ricardo Pereira, dois fatores têm levado os jovens a deixar de lado o emprego formal e partir para o negócio próprio: a crise econômica, que elevou o desemprego no país e no mundo, principalmente nessa faixa etária, e uma tendência mundial “de fazer o que gosta e experimentar novas oportunidades”. “Eles buscam o bem-estar e não só dinheiro, e gostam de experimentar muito mais do que os pais, por exemplo, que sempre tiveram como norte arrumar um bom emprego de carteira assinada”, afirma.
No Brasil, segundo ele, a maioria dos novos empreendedores é formada por jovens entre 25 e 34 anos (30,3%). De acordo com Ricardo Pereira, o Brasil é hoje um dos países onde mais se empreende por oportunidade e não apenas por necessidade.

A realização de um sonho

Sexo masculino, entre 26 e 30 anos, curso superior completo, microempresário e faturamento anual de R$ 60 mil a R$ 360 mil. Esse é o perfil do jovem empreendedor brasileiro, segundo pesquisa realizada em 2015 e divulgada este ano pela Confederação Nacional dos Jovens Empresários (Conaje).
Para o presidente da Conaje, Guilherme Gonçalves, advogado e empresário no setor de alimentação, a busca pelo próprio negócio ou da validação de uma boa ideia é um grande motivador do jovem, apesar, logicamente, da instabilidade que qualquer negócio tem. “A pesquisa de perfil do jovem empreendedor realizada pela Conaje revela que a identificação de oportunidades de negócios e também o desejo de realização de um sonho são fatores cruciais para o empreender”, afirma Guilherme.

Apesar disso, segundo ele, ter um negócio no Brasil não é fácil. “São muitos os obstáculos, desde a burocracia até a tributação.” De acordo com a pesquisa, a carga tributária elevada (58%) e a burocracia (23%) são os principais empecilhos.

Para quem se arrisca, as dicas são “elaborar um planejamento, ter claros os objetivos e estratégias que o negócio atingirá e desenvolverá, além do constante aperfeiçoamento em gestão”.
O envolvimento em movimentos e associações também aumenta exponencialmente a rede de contatos e o aprendizado com as experiências de outros jovens, segundo Guilherme. “O jovem empreendedor ainda não tem a experiência e o know-how que a vida empresarial agregam. Tal situação obriga a ter muito mais cuidado, pois a empolgação com o negócio, o status de empresário e o ímpeto e a coragem próprios do jovem não podem cegá-lo na busca de realização de seu sonho”, defende.

Perfil do jovem empreendedor brasileiro

71% do sexo masculino e 29% do sexo feminino
35% com idade entre 26 e 30 anos
28% de 31 a 35 anos e 18% de 21 a 25 anos
32% com renda familiar de seis a
10 salários mínimos, 22% de três a cinco salários mínimos e 21% de 11 a 19 salários-mínimos
42% com ensino superior, 39% com pós-graduação e 12% com ensino médio
63% têm apenas uma empresa, 25% têm duas, 7% têm três empresas, 3% têm mais de quatro, e 2% têm quatro
70% têm até nove funcionários, 21% têm de 10 a 49 funcionários, 5% têm mais de 100 funcionários, e 4% têm de 50 a 99 funcionários
31% conseguem faturamento entre R$ 60 mil e R$ 360 mil, 29% até R$ 60 mil, 29% entre R$ 360 mil e R$ 3,6 milhões, e 10% entre R$ 3,6 milhões e R$ 48 milhões
66% não têm empresa familiar e 34% sim
54% conseguiram investimento por meio de financiamento bancário, 39% por meio de família e/ou amigos, 5% investimento-anjo e 2% por fundos de capital de risco
58% listam a carga tributária elevada como principal desafio externo, 23% a burocracia, 8% a legislação, 6% a logística e
5% salários mínimos


Fonte: Estado de Minas (repórter Alessandra Mello)
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